domingo, 16 de novembro de 2008

A Liderança, A Visão e os Equívocos

Lula está sempre um passo atrás, ao menos nas questões que envolvem leitura. Exemplo melhor não tem, como o que se passou nesses últimos dias antes do encontro do G20. Já faz ia algum tempo que a expectativa era grande, e os grandes lideres mundiais já estavam pensando a altura. Jornais do mundo inteiro aguardavam o encontro. Lula não, Lula seguia difundindo sua minuciosa análise de que a crise é coisa do Bush, e de que o melhor que ele pode fazer pelo Brasil é ligar para seu colega americano para dar broncas.

 

O presidente de turno da UE, o hiperativo Nicolas Sarkozy viu na cúpula a chance para “refundar o sistema financeiro mundial”, deixado praticamente ao deus –dará depois das ultimas reuniões a respeito, na Jamaica em 1975. José Luiz Rodiguez Zapatero viu a oportunidade de difundir o sistema bancário e financeiro espanhol, que até agora tem se mostrado o mais sólido da Europa, calcado principalmente na austeridade de seus tradicionais banqueiros, e em regulamentos que obrigam a criação de um fundo especial nos tempos de vacas gordas.

 

O Santander, por exemplo, viu na crise a oportunidade para comprar e  expandir e já é o segundo maior banco na Europa, atrás apenas do HSBC. Zapatero inclusive se viu obrigado a deixar a honra de lado e praticamente implorar para que Bush o convidara para a cúpula. Os dois amargam um duro relacionamento desde que Zapatero tirou o exército espanhol do Iraque, em 2004.  O líder do governo espanhol sabia da importância da cúpula. Lula não. Lula inclusive disse para que não esperássemos muito. (http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL858255-5602,00-EM+ROMA+LULA+MINIMIZA+EXPECTATIVAS+PARA+REUNIAO+DO+G.html)

 

Tivesse lido os principais periódicos do mundo, saberia que a oportunidade era única. Mas isso viu apenas depois, quando já estava na cúpula, e acabou rotulando de histórico o encontro, e que o G8 acabaria se tornando em “um clube de amigos” (http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL863718-9356,00-LULA+CONSIDERA+REUNIAO+DO+G+EM+WASHINGTON+HISTORICA.html). 


Se foi histórica a reunião, certamente não foi por influência do líder brasileiro, que tem se mostrado perito em deixar passar oportunidades de liderança.  Não acrescentou nenhuma proposta diferenciada, e em seu discurso inclusive faltou visão para um novo sistema financeiro mundial. Ao meu ver, propostas vêem depois, até aí não tem problema.

 

Mas um líder sem visão, sem um norte, aí sim está o nosso principal problema. Lula segue em sua fase adolescente, pensando que o mundo gira ao seu redor, e o segue atrás. Já é hora de Lula descobrir o que quer fazer da vida, o que fazer do Brasil. Está faltando o PAC da visão.  E infelizmente visão exige, mesmo que num mínimo nível, leitura. Lula não gosta de ler. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Maior Banco do Hemisfério

Na Nova Zelândia ficava maravilhado ao visitar as coisas únicas do hemisfério sul. Visitei o único castelo, a melhor universidade, a maior península, etc.

Tinha 16 anos, e ficava maravilhado com muita coisa. Depois descobri que o hemisfério sul não passa de metade da América do Sul, metade da África, Indonésia, Austrália e Nova Zelândia.
Como é que já não tínhamos o maior banco do hemisfério antes, sendo o Brasil o país mais rico do hemisfério sul? 

Pra inglês ver...

domingo, 2 de novembro de 2008

Líder de quem?

Em todo o mundo, o Brasil é visto como líder natural da América Latina. Em todo o mundo menos no Brasil, onde o Itamaraty chegou a cortar a exigência do inglês dos novos diplomatas por considerar um fator elitista. E como é que nos comportamos com essa responsabilidade? Bom transcrevo a visão do periódico de esquerda El País, o mais influente da Espanha.


         "Los organizadores pretenden que en 2011 la cita sea en el pais que go
vierna Luiz Inácio Lula da Silva, pero éste no termina de decir ni que sí ni que no. De heco, su propia presencia en esta cumbre refleja su postura.
          El mandatario brasileño estuvo sólo unas horas en San Salvador... aunque durante ellas adop'to el papel de liderazgo que le otorga la posicíon emergente de su país en la economía mundial. Todos - incuindo España - querían fotografarse con Brasil, y no necesariamente al contrario.''
(El País, 1 de novembro de 2008)

No encontro, estavam presentes não só o primeiro ministro Español, José Luis Zapatero, mas também o rei Juan Carlos. Aquele está louco para participar do encontro do G-20 em Washington, agora no dia 15 de novembro. Lá serão decididos os novos possíveis modelos para a economia mundial. Tentou conversar com Lula para que fosse um porta-voz das idéias espanholas na cúpula. Mas Lula preferiu ir a Cuba. Vai entender.


O Preconceito na Europa

Começo a acreditar que o sucesso de Obama pela Europa está relacionado com o grande preconceito que existe por aqui. O fato de um negro, filho de imigrantes, de um pai omisso que nunca pensou que seu filho se candidataria a presidência (não o chamaria Barack Hussein Obama, se pensasse o contrário) chegar ao mais alto posto dos Estados Unidos não significa que o racismo não exista naquele país. Mas sim significa que a cor de sua pele importou menos que outros fatores, para a maioria dos americanos. E isso já representa uma grande mudança, desde o tempo quando os negros estavam condenados por um racismo constitucional no sul do país. Mas o fato é que o sucesso de Obama surpreende mais a Europa do que os Estados Unidos.

O velho continente continua extremamente conservador nesse ponto. Serão ainda muitos anos até que um filho de paquistanês seja primeiro-ministro na Grã-Bretanha, e o mesmo com um filho de marroquinos na Espanã, argelinos na França, turcos na Alemânia, albaneses na Itália, etc. E ainda mais distante o dia quando um gaijin se torne primeiro-ministro no Japão. E isso nos diz mais sobre o racismo no resto do mundo do que nos Estados Unidos. 

domingo, 26 de outubro de 2008

Zamora en bici


No canto do olho, ali, bem no cantinho se escondia uma lágrima. No começo era o frio, depois passou a ser o vento. Ela não se importava com nada, nem guardanapo de posto de gasolina, nem manga do casaco, nem dedo, nem nada. Estava sempre ali, e com razão porque ventava pra burro. 

Mas assim como ela, não me importei. Estava feliz o bastante de sair num dia de sol, livre pela estrada. Enfrentava 70km até Zamora, uma cidade históric
a que está aqui perto de Salamanca. Não conheço os motivos pelos quais geralmente se começa a praticar ciclismo de estrada, mas o meu é muito simples. Gostei muito da idéia de poder acordar cedo num domingo, subir na bicicleta e parar em outra cidade. Ainda mais quase se percorre um trecho da Via de la Plata, que originalmente vai de Sevilla a Santiago de Compostela. Uma via que remonta os tempos da colonização romana da Hispania, ou terra de coelhos. 

Segui valente. Não deixei a inexperiência atrapalhar a motivação. Nem o câmbio quebrado no marcha mais leve, ali pelo quilômetro 20km. Segui, com um sorriso no rosto. Aquela viagem seria mais ou menos 20% do caminho até Santiago, que farei no meio de Dezembro. Completá-la me diria se poderia fazer o caminho ou não. Então segui
 forte, relembrando as batalhas cristãs contra o emirato, e depois o califato muçulmano no século X. Todas elas aconteceram por ali, ao alcance dos meus olhos. Segui animado, mas a lágrima no canto do olho já não era do frio, nem do vento. O Sol estava forte, e o asfalto fazia bem seu trabalho de sugar toda a energia de sol e devolve-lo para mim. A lágrima já era dor mesmo, malditas subidas. Mais um pouco e calculava que já chegava. Parei num posto próximo a um povoado chamado Cubo de Tierra de Vino, e descobri que ainda faltava metade do caminho. Maldita idéia, e maldito sol. Pego um ônibus e acabou. Mas não...

Seguia teimoso. Tive uma conversa interessante com um na
tivo do povoado, no posto. Me senti um pouco mais animado, e por isso continuei. No fim me arrependi de não ter perguntado como se chama quem nasce em Cubo de Tierra de Vino, mas fica pra próxima. Fica pra dezembro. 

O quilômetro 60 foi o mais difícil. Já podia ver a cidade e tudo mais, mas as pernas estavam no piloto automático, dormentes, já ha algum tempo. Enxuguei as lágrimas, alonguei, dei um grito e cheguei. Cheguei caindo, tropeçando, mas cheguei.

A ainda deu pra conhecer um pouco da cidade antes de tomar 
o ônibus de volta. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Porque estamos na América Latina


Nunca vou me esquecer de um mendigo com quem conversei na ilha de Curaçao. Chamava-se Richards, e falava um português razoável. Logo explicou que o português adaptou do papiamento, que é sua língua materna, assim como para a maioria dos nativos daquelas antilhas. "Uma espécie de mistura de espanhol, holandês e português", me explicou logo. Passa que por aquelas ilhas o comércio intenso nos séculos XVI e XVII acabou cunhando um idioma novo, numa região que até hoje vive dos barcos e navios que param por ali. 

Eu interessado mais na conversa que nos desenhos toscos que nos tentava vender, perguntei quantos idiomas falava, ao que me respondeu simplesmente. "Aqui todos falamos 4, o holandês porque é a língua oficial, o papiamento que falamos em casa, o inglês porque é a língua dos turistas, e o espanhol porque estamos na América Latina". Simples assim. Porque estamos na América Latina. Apesar de todos seus defeitos, achei uma ótima a iniciativa do Lula de começar pra valer (vamos ver se realmente pra valer) o ensino do espanhol nas escolas públicas. Quem sabe finalmente não começamos a pensar na Argentina, no Chile, na Colômbia como nomes que vão além de seleções de futebol. 
A integração dessas nações hispano-americanos é algo que acho impressionante, e o Brasil nunca será líder nem porta-voz da região se continuarmos mais ligados a Nova Iorque e Paris do que à Buenos Aires ou Santiago. Não tem jeito, América do Sul é nosso destino. 

(Na foto, de baixo da torre, foi escrita por Antonio Nebrija a primeira gramática do castellano, em 1492)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Santiago 2.

O Caminho de Santiago de Compostela foi um dos grandes fatores que levou ao povoamento da península Ibérica durante a idade média. A idéia de que um dos apóstolos de Cristo estivesse enterrado alí, e o acordo com os papas em Roma, que no século XII proclamaram o caminho como uma forma de indulgencia, levou milhares de pelegrinos de toda a Europa a percorrer o que hoje ficou conhecido como Caminho Francês. O primeiro guia do caminho foi publicado neste século, quando também foi criada uma ordem militar para proteger o caminho dos mouros ao sul, e de piratas. Os primeiros roubaram os sinos da catedral de Santiago e levaram para a cidade de Córdoba, e os últimos invadiram Santiago de Compostela no final do século XV. Alguns monges resolveram então esconder o corpo e as relíquias do apóstolo, e infelizmente acabaram sendo mortos sem revelar o local do esconderijo, que foi descoberto apenas 500 anos mais tarde.